Manual de crise

Por Maria Inês Dolci

Um trimestre, seis meses ou um ano. A duração é a única dúvida que nós podemos ter em relação à crise econômica que se avizinha, provavelmente para o início de 2015.

Evidentemente, cada eleitor vê a crise no candidato no qual não votou, mas as tarifas de energia elétrica já subiram, em média, 17% em 2014. Com as ajudas que o governo federal já deu às empresas do ramo, como não esperar um tarifaço no ano que vem?

Da mesma forma, é óbvio que a seca tem custo. E não é baixo. Impacta a produção de alimentos e bebidas, e de diversos outros itens indispensáveis à vida. Não é possível plantar e colher sem água. A tendência de aumento da inflação é, portanto, muito forte.

Não se trata de catastrofismo, nem de estragar a semana de quem já tem dificuldades com a segunda-feira.

Temos de nos preparar, porque é assim que se faz em relação às crises.

O primeiro aspecto relevante é, se possível, não ter dívidas. Nenhuma seria melhor do que pouco. Inflação teimosa se combate, no Brasil, com juros altos. Cortes de despesas públicas raramente ocorrem. Políticos não gostam de pagar o preço da impopularidade, ao fechar as torneiras (desculpem-me a imagem!) dos recursos públicos.

Além de não dever, há que explorar, melhor, as novas possibilidades que a economia colaborativa nos trouxe. Devido à facilidade de comunicação (dispositivos móveis e computadores que acessam a Internet), o mundo mudou. Já é bem comum vender e comprar em mercados digitais. Isso ameniza a redução da renda para adquirir produtos e serviços.

Teremos, também, de ser muito criteriosos nas compras do supermercado. Não saia de casa sem uma lista detalhada do que deve adquirir, sejam alimentos, material de higiene pessoal e limpeza. Sem colocar no papel o que falta na despensa, corremos o risco de comprar por impulso, na passagem pelas gôndolas.

Além disso, não compre antes de comparar preços. Aproveite que há sites especializados nisso.

Essa comparação viabiliza, também, o velho hábito da pechincha, reforçado em períodos de queda na economia.

Produtos de grife podem atrair você, mas não são os mais recomendados se o bolso estiver mais leve. No caso de roupas e sapatos, avalie, primeiramente, como estão seus armários. Hoje, não sobra espaço em apartamentos e casas para guardar o que não usamos. Antes de adquirir uma nova peça, venda ou doe alguma que já não usa há muito tempo.

O lazer em casa também é mais barato. Os preços de bares e restaurantes subiram muito, embora os empresários do ramo afirmem ter argumentos para explicar isso. Nesse caso, é importante, novamente, avaliar a famosa relação custo-benefício. Ou seja, se vale a pena.

E comparar, é claro, os preços de refeições, petiscos e bebidas similares. O ideal é projetar o gasto possível, e escolher os itens do cardápio com esse foco.

Caso contrário, a ‘dolorosa’, como os antigos chamavam a conta, pode ser muito pesada para um bolso só.

Todos os cálculos ajudam nesses momentos. Por exemplo, se você trabalha em casa, sai pouco de carro, talvez não tenha necessidade de um automóvel zero quilômetro. E se tiver a felicidade e a sorte de contar com estações do metrô e linhas de ônibus próximas de sua casa e dos locais de compromisso, é provável que nem precise ter um carro.

Em alguns países, como a Alemanha, é muito fácil e barato locar um automóvel para situações em que sejam efetivamente necessários. Nada a ver com status ou paixão pelo possante de quatro rodas.

É bom saber que crises duram um tempo e terminam. Então, não há por que ficar pessimista nem desesperado. Cautela não é sinônimo de desânimo. Quem se prepara, sofre menos.