Nas crises, o direito à informação se torna ainda mais importante. Ou, melhor dizendo, sua importância se destaca.
Não há dúvidas de que parte do Brasil enfrenta a pior seca de todos os tempos. Por exemplo, em São Paulo, que teve um verão atipicamente seco.
Sem água, nada feito. Faltam alimentos, bebidas, higiene pessoal e doméstica, saúde etc.
Também não há um cenário róseo na área de energia elétrica. Teremos ‘bandeirinhas’ acenando para aumentos na conta de luz, tudo agravado pela seca, pois nossa principal matriz energética é hidrelétrica. O governo tem socorrido as empresas deste segmento, e parte da conta virá para nós, consumidores.
Nos dois casos, há um personagem ausente: a informação. Fenômenos climáticos acontecem, ainda mais nos últimos anos. Se não chove, as represas secam, e isso afeta o abastecimento de água e os custos de energia (pelo maior uso das termelétricas).
Em 2001, houve um racionamento de energia. O presidente da República à época, Fernando Henrique Cardoso, assumiu as responsabilidades e expôs as providências adotadas pelo governo para combater a crise.
Pagou e paga um alto preço por isso, politicamente, mas essa é uma das consequências do poder.
Não é o que ocorre atualmente. O direito à informação clara e precisa é um dos principais aspectos do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Muito do sucesso do CDC vem desta visão de que temos o direito, como cidadãos, de ser informados sobre todas as questões relevantes de produtos e serviços.
Talvez pelo calendário eleitoral – que continua na disputa presidencial do segundo turno, e em alguns estados que ainda definirão nas urnas o novo governante – não haja clareza sobre racionamento de água e choque de preços na energia.
Nenhum candidato ou candidata quer perder votos em função do que fez – ou deixou de fazer – para evitar estes problemas. A verdade, contudo, vai aparecer de alguma forma, nos próximos meses.
Não há como esconder que a água escasseia nas torneiras. Nem fechar os olhos dos consumidores quando as contas de luz chegarem bem mais caras em suas casas e escritórios.
Cabe ressaltar que a exploração eleitoreira destes casos não ajuda nem um pouco a solucioná-los, ou pelo menos a amenizar os problemas que os cidadãos enfrentarão. Negativas da realidade sobrevêm após trocas de acusações, embora saibamos que soluções só costumem aparecer em consequência do reconhecimento das crises.
Para transformar as pessoas em aliadas na economia de água e de luz, as autoridades têm de abrir o jogo. Indicar os cenários, por mais assustadores que sejam.
Crise é a quebra momentânea do equilíbrio, ainda que frágil, em nossas vidas. Enfrentá-la exige avaliação, planejamento, ação e informação. Somos obrigados a tomar decisões rápidas, mas bem embasadas, para não agravar as dificuldades.
Essas situações podem ser extremamente educativas, também, se soubermos entender as lições que nos trazem. Uma delas é que nosso modelo de exploração dos recursos naturais e o descuido com o meio ambiente têm gerado efeitos maléficos. Nossas grandes cidades têm transporte coletivo ineficaz e insuficiente, carros em profusão, pouco verde e áreas de manancial desprotegidas.
Nem sequer atendemos ao apelo para que os telhados fossem pintados de branco, como forma de reduzir as ilhas de calor (http://www.onedegreeless.org/home/home.html) nas metrópoles brasileiras.
Falamos e escrevemos sobre o aquecimento global como se fosse uma condenação inapelável, um destino contra o qual nada pudéssemos fazer. É mais fácil agir assim do que mudar. Até que as torneiras sequem e a energia fique muito mais cara.