Aviõezinhos de papel

Por Maria Inês Dolci

Novamente, está nos noticiários a promessa de melhorar os aeroportos regionais. Não sabemos se isso tem somente a ver com as eleições, ou se os passageiros contarão, efetivamente, com mais ofertas de voos para as cidades de porte médio do Brasil, uma necessidade absoluta, em uma nação com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados de extensão.

Se os aeroportos das grandes cidades brasileiras não são lá essas coisas, nem precisa dizer que os demais são ruins, desconfortáveis e incapazes de receber aviões de maior porte.

Além disso, os voos são caríssimos, desestimulando o uso desse tipo de transporte nos deslocamentos dentro do país. Some-se a isso o fato de não termos transporte ferroviário de passageiros, e a constatação será óbvia: somos quase que obrigados a usar as rodovias, em ônibus e automóveis.

É um absurdo tal situação, mas não existem indícios seguros de mudanças. Houve um período em que as classes C e D tiveram a impressão de que desfrutariam de acesso permanente às linhas aéreas, mas tal esperança não durou muito. A crise do duopólio da aviação comercial – TAM e Gol – provocou cortes de serviços e aumentos dos preços das passagens. O sonho acabou.

Bem, diriam alguns, esta é uma questão econômica, de livre concorrência. Não, não é. O governo cobra muito caro pelo querosene de aviação, o insumo mais pesado deste tipo de transporte. Não investiu em aeroportos, nem em um programa que estimulasse a aviação regional.

Aviões e trens não deveriam ser opções raras para a maioria da população. Lembram-se da patranha do trem-bala, aquele que ligaria São Paulo ao Rio de Janeiro, com eventuais escalas em Campinas? Pois é, não vingou. Mesmo com orçamentos inflados, que eram acrescidos de bilhões de reais a cada novo anúncio de concorrência, nada aconteceu.

Recentemente, o governo informou que a prioridade, agora, será o Programa de Aviação Regional. Será que devemos acreditar nisso? Esperemos que sim. Somos mais de 200 milhões de habitantes, então, não é possível que não haja condições de manter esta atividade.

Parte expressiva do desenvolvimento brasileiro migrou para o interior, por exemplo, com o agronegócio. Empresas deixaram grandes cidades, para fugir dos elevados custos, da violência e do trânsito congestionado.

Por essas razões, há demanda e justificativas para melhorar aeroportos, ampliar o número de rotas e reduzir preços.

É evidente que isso só funcionará se a inexplicável reserva de mercado para companhias aéreas com capital nacional for rompida, para que empresas internacionais disputem este negócio.

Sinceramente, não vejo por que proteger esta área, como se vivêssemos ainda na Guerra Fria, ou em outros períodos com ameaças à soberania do país. Este assunto parece um tabu, pois não é sequer discutido.

O direito de ir e vir depende dos meios de transporte disponíveis. Na infraestrutura, esta é uma das maiores carências do Brasil. Basta avaliar, por exemplo, a limitada oferta de metrô. Mesmo em São Paulo, em que há mais estações, está muito longe de atender às exigências dos cidadãos.

Sem trens, sem metrôs e sem aviões, o turismo e os negócios enfrentam grandes dificuldades. O transporte de produtos agrícolas, por exemplo, pena em longas e demoradas viagens de caminhão. Hidrovias são ainda mal aproveitadas, inclusive em percursos urbanos.

Que os anúncios da Secretaria de Aviação Civil, portanto, se concretizem. Que não sejam mais bolhas de sabão que serão estouradas ao longo do tempo. Sem mobilidade, não há desenvolvimento, exceto nos paraísos artificiais das campanhas eleitorais.