Faraós com dinheiro dos outros

Por Maria Inês Dolci

No antigo Egito, elas representavam o poder dos faraós. Repletas de significados místicos e transcendentais, até hoje não ficou claro como as pirâmides foram construídas, pois, ao que se saiba, não havia gigantescos guindastes nem equipamentos que transportassem pedras de várias toneladas. Elas são provas de que não sabemos tanto assim sobre o passado.

Há outro tipo de pirâmide, atualmente, criado para enganar as pessoas e proporcionar, aos golpistas, lucros rápidos com consequentes prejuízos para os que acreditarem na possibilidade de enriquecimento sem trabalho.

Essa construção não se destaca pela arquitetura nem pela imponência, mas pela oferta de retorno financeiro impossível, explorando a ganância do ser humano.

O Ministério Público de São Paulo denunciou, recentemente, pessoas que teriam se unido para montar o Sistema BBom. Segundo a denúncia, o sistema seria uma pirâmide financeira metamorfoseada em “marketing multinível”, sob a fachada de venda de rastreadores veiculares.

Não pretendo repetir o que já foi publicado pelos meios de comunicação. O que me traz ao tema é a frequência com que cidadãos caem nesse tipo de jogada. Por que isso acontece?

A resposta é óbvia: quando surge uma proposta de riqueza imediata, sem longos anos de trabalho e investimento, milhares e até milhões de pessoas fecham os olhos aos riscos, se esquecem de situações similares em que houve choro e ranger de dentes, e se atiram de cabeça neste sonho, que logo vira pesadelo.

O cardápio é amplo: ouro, boi gordo, ligações telefônicas pela Internet etc.

Os primeiros a participar recebem bônus e alimentam a voracidade pelo negócio. Como a pirâmide é montada geometricamente, os últimos a ingressar teriam de indicar milhares de pessoas para que a corrente não quebrasse. Trata-se, portanto, de um golpe com prazo para estourar. Quanto maior a adesão ao sistema, mais rápido será o rompimento da bolha e a triste realidade das perdas.

A recomendação, então, é antiga, mas totalmente válida: não acredite em negócios milagrosos, altamente lucrativos, nos quais não haja as três etapas da atividade econômica – projeto, produção e comercialização. Se já foi lesado, vá à Justiça, com todos os documentos, recibos e e-mails que comprovem suas perdas e a participação na pirâmide.

Feitas essas observações, admito que seja possível lucrar muito com uma ideia prodigiosa, inovadora, que ofereça ao mercado algo inédito. Na área de tecnologia da informação, por exemplo, há inúmeros casos de sucesso. O computador pessoal é um deles. Nada surgiu, entretanto, do dia para a noite.

Empreendedores tiveram ideais geniais, criaram protótipos no fundo do quintal, tentaram obter investidores e iniciaram um trajeto longo e espinhoso até o sucesso, intermeado por alguns fracassos e desapontamentos.

Quem acreditou neles bem no início, ganhou e ganha muito dinheiro. Apostou, porém, em produtos e serviços que pareciam promissores, e esperou muito tempo pelos resultados.

São situações totalmente diversas de colocar dinheiro em um sistema mágico e lucrar muito sem fazer nada.

Se você aceita mais risco na expectativa de lucrar mais, por que não tenta investimentos legais, fiscalizados publicamente, nos bancos e nas bolsas de valores?

Também poderá não receber o retorno esperado, mas não por ilegalidades e armadilhas. Arriscará e obterá lucros ou prejuízos.

Voltando ao Egito, há milhares de anos, segundo relatos históricos, os faraós mandaram erguer as pirâmides porque acreditavam no futuro renascimento, razão pela qual foram mumificados.

Os artífices das pirâmides atuais são menos transcendentais: só querem encher os bolsos com os recursos financeiros dos incautos. Enfrentarão a Justiça, com ameaça de passar um bom período na cadeia. Poderiam aproveitar para ler sobre história antiga, e aprender como as verdadeiras pirâmides foram construídas.