Para comprar o primeiro imóvel

Por Maria Inês Dolci

A compra do primeiro imóvel é uma das principais transações financeiras da maioria das famílias. Em grandes capitais brasileiras, dificilmente um apartamento com dois dormitórios custa menos do que R$ 250 mil. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, esse valor é multiplicado, pelo menos, por dois.

Há um fortíssimo apelo para que os jovens casais adquiram uma casa ou apartamento. Por vários motivos, dentre eles a importância da construção civil para a economia brasileira, inclusive na geração de empregos.

Quando a economia está desaquecida – para usar um eufemismo – como agora, com previsão de crescimento do Produto Interno Bruto inferior a 1%, surgem mais dúvidas sobre o momento de comprar o imóvel. Recessão econômica aumenta o risco de desemprego e de queda no faturamento de profissionais liberais, microempresários etc.

É difícil, porém, dizer “espere um pouco” para alguém que tenha este sonho há muitos anos. Ainda mais quando inicia um novo momento na vida, após união afetiva (pelo casamento ou decisão de viver com outra pessoa).

Se for o seu caso, comece fazendo contas. Não há como escapar disso. O ideal seria que o casal tivesse condições de dar uma entrada que reduzisse o valor a ser financiado. No mínimo, que cobrisse as parcelas semestrais, bimestrais etc. Para que ficassem somente com a prestação mensal. E que não comprometessem, com os pagamentos do crédito imobiliário, mais do que 25% a 30% da renda familiar.

Então, um casal que, somando salários e outros ganhos, recebesse R$ 12 mil no total, por exemplo, não teria como pagar mais do que R$ 3.600,00 de prestação da casa própria. Por que não? Porque teria outros compromissos financeiros – alimentação, transporte, educação, telecomunicações, saúde e lazer. E, além da prestação, deveria pagar contas de água, luz, gás, condomínio etc.

O melhor seria, portanto, juntar dinheiro suficiente para quitar o imóvel à vista. Sabemos, contudo, que essa é uma realidade somente para uma minoria. A maior parte das pessoas tem mesmo de recorrer ao Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que tem juros menos salgados.

O imóvel, além disso, é bem mais do que quartos, sala, banheiro, cozinha, área de serviço e garagem. Sua localização é fundamental. Casais podem ter filho (s). Morar perto ou não muito longe de escolas, supermercados, farmácias, padarias e de outros serviços básicos poderá fazer toda a diferença em termos de qualidade de vida.

Não podemos nos esquecer, também, de que há um movimento claramente hostil em relação ao automóvel particular nas maiores cidades (como São Paulo). E a tendência é que isso piore. Logo, ter pontos de ônibus ou de metrô nas cercanias do prédio é essencial.

Outros aspectos,  nem sempre considerados na hora da compra, são a segurança na região e a tranquilidade auditiva (feiras livres, bares noturnos e outros locais semelhantes podem, literalmente, tirar o seu sono).

Resumindo, não se pode assumir um dos maiores compromissos financeiros de uma vida sem pensar em todas estas questões. Este relacionamento financeiro irá durar 15 a 20 anos. Se houver arrependimento, certamente custará caro.

O ponto de partida, sem dúvida, é a possibilidade de pagar o custo mensal do imóvel, por muitos anos, mas tudo o que citamos é relevante. Inclusive o histórico da construtora e a avaliação criteriosa da obra.

Somente o casal poderá dizer se valerá a pena ou não comprar a moradia. Se terão como bancar todos os custos envolvidos, inclusive da documentação do imóvel. Os outros só podem dar palpites, como faço aqui, embasada em longa experiência relativa a consumidores que ficaram felizes ou infelizes com suas escolhas.

Também enfrentei esse dilema pessoalmente. Não se precipite! Adquirir o primeiro lar dará trabalho, mas será assim que seguiremos em frente na vida.