Depois do carnaval, passado o Natal, adiante do Ano-Novo. Já estamos acostumados a postergar coisas difíceis em nossas vidas, seja um rompimento afetivo, a mudança de emprego ou o começo de uma dieta alimentar.
O governo federal deu pistas claras de que fará isso com as contas de luz dos brasileiros no ano que vem. À barbeiragem na redução dos valores nos boletos, sem que houvesse uma mudança efetiva nos fatores que encarecem a energia elétrica – dentre eles, por exemplo, o baixíssimo aproveitamento de fontes alternativas, como o sol e os ventos, e a pesadíssima carga tributária –, somou-se o clima árido deste verão.
Realmente, choveu muito pouco nos últimos meses, e o Brasil depende quase que exclusivamente das hidrelétricas. Mas é estranho que as autoridades falem em aumentar impostos para bancar o uso das termelétricas e projetem reajustes em 2015, enquanto ainda não compensaram as perdas de milhões de brasileiros.
Uma perguntinha teimosa: e os R$ 7 bilhões cobrados a mais nas faturas por vários anos? Bem, devem ter evaporado com o calor escaldante de janeiro e fevereiro.
Novamente, vale a lei do mais forte: falha contra o consumidor, fazer o quê? Perdas das companhias, repasse do Tesouro e majoração das contas.
Fica claro que, nesta festa, nós não nos divertimos, só arcamos com o prejuízo.
A propósito, depois das eleições também é muito provável que sejam reajustados de verdade os preços dos combustíveis, pois a Petrobras está bancando parte das importações de petróleo.
Já houve aumentos de preços, mas eles ainda não solucionaram a situação vivida pela maior empresa brasileira.
Ou seja, 2015 será um ano em que meterão a mão nos nossos bolsos, especialmente em função da energia e dos combustíveis. São duas rubricas que influem em todos os preços da economia. Logo, o governo terá de cortar gastos para evitar uma escalada inflacionária e, se necessário, aumentar ainda mais os juros.
É claro que podem acontecer fenômenos que aliviem esta barra. Refiro-me a chuvas abundantes, que encham nossas represas. Seria ainda melhor se o verão 2014/2015 fosse mais chuvoso e menos quente do que o atual.
Também seria um presente se as cotações do petróleo desabassem, reduzindo as pressões de custos sobre a Petrobras, até porque a alardeada autossuficiência nesta área só ocorreu na retórica política.
Hoje, não é possível prever que todas estas peças se arranjem em nosso favor, mas milagres acontecem.
Se não ocorrerem, bem, enfrentaremos uma redução em nosso poder aquisitivo. Ainda mais se os tais aumentos de impostos, como é de praxe, vierem para ficar.
Ninguém poderá dizer, contudo, que não sabia das surpresas pós-eleitorais. O próprio governo acenou com um cenário nada agradável para nós.
Essas coisas não vão acontecer já. Ficarão para depois da Copa e da apuração dos votos de milhões de brasileiros. Antes, seremos bombardeados com propaganda nos garantindo que estamos vivendo no paraíso. Que somos mais ricos e mais felizes. Quem quiser que compre esta versão rósea dos fatos.
As entidades de defesa do consumidor, mais uma vez, vão chiar e cobrar medidas que garantam o fornecimento de energia elétrica, sem onerar o orçamento familiar. Vão lembrar os R$ 7 bilhões retirados de nós ao longo de vários anos.
Teremos que economizar energia elétrica, também, por que, em 2015, depois da Copa e das eleições, entrarão em vigor as bandeirinhas tarifárias, que nos informarão sobre o encarecimento das contas de luz, no caso, por exemplo, de aumentos de custos, como os que decorrem do uso de termelétricas.
São coisas que político nenhum gosta de comentar antes das eleições. Mas é fundamental que todos pensem, como eleitores e cidadãos, no antes, no durante e no depois.