O consumidor tem o direito de reclamar, sim, de tudo aquilo que lhe pareça prejudicial e que, segundo sua avaliação, infrinja seus direitos.
O consumidor não está fazendo ‘palhaçada’ – com todo respeito aos profissionais que fizeram e fazem milhões sorrir – quando reclama de algo, mesmo que o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) não concorde com a manifestação.
O consumidor paga a conta dos produtos e serviços e, indiretamente, da indústria da propaganda.
O consumidor faz mover as engrenagens da economia, portanto, que geram riquezas, empregos, arrecadação de impostos e, desta forma, os investimentos em saúde, educação, segurança pública etc.
O consumidor está mais consciente de seus direitos por vários motivos, dentre eles o advento do Código de Defesa do Consumidor (CDC), as ações das entidades públicas e privadas que o defendem nas relações de consumo, e a disseminação das informações por intermédio dos meios de comunicação e das redes sociais.
O consumidor poderia, sim, reclamar até da nomenclatura de um cardápio de feijoada, como satiriza o Conar, mas tem coisas bem mais sérias para se preocupar, como a propaganda de alimentos voltados às crianças e adolescentes, repletos de açúcar, gordura e sódio. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), corretamente, emitiu resolução para o tema, que foi cassada na Justiça, em nome dos negócios.
O consumidor não deve confiar cegamente em nenhuma instituição, nem mesmo no Conar.
O consumidor não é um chato, bobo, que não sabe o que quer.
O consumidor não tem tempo a perder, como sugere o Conar, com frivolidades.
O Conar parece não conhecer o consumidor, muito menos respeitá-lo.
O consumidor foi injustamente atacado, porque suas reclamações não agradam aos autorregulamentadores.
Você deve ter percebido que repeti, de propósito, várias vezes a palavra consumidor, para ver se o Conar entende com quem está lidando. A agressividade da campanha da entidade só se explica pelos interesses contrariados.
Explica, mas não justifica.
Não entendi muito bem qual o objetivo da iniciativa. Constranger o consumidor para que não reclame mais? Calar sua boca, para não atrapalhar as atividades das agências de propaganda? Deixar anunciantes em paz, ainda que se queixe, com razão, de abusos publicitários?
Talvez acerte quem marque todas as opções acima.
Eu ainda não havia visto um ataque tão gratuito, ainda mais disfarçado como uma tentativa de ‘educar’ as pessoas, para que não gastem o tempo precioso do Conar.
É estranho, porque não existem pessoas nem instituições infalíveis. Iluminados a quem não se deva incomodar, pois sabem muito bem tudo o que fazem.
Não se trata de uma postura construtiva, colaborativa nem democrática.
Estaria mais adequada a outros tempos, quando qualquer contestação a quem mandasse seria vista como negativa para o país.
Os tempos mudaram, felizmente. O consumidor e o Conar podem expressar exatamente o que sentirem, mesmo que nem todos concordem com isso.
A democracia tem dessas coisas. Às vezes, provoca atritos, fricções, embates. Reivindicações, por mais justas que sejam, incomodam muitas pessoas.
Pensando bem, até que a peça que usa um palhaço como personagem poderia ser vista como uma homenagem, porque nos circos há muita dedicação e seriedade. Pessoas trabalham para que outras se sintam felizes.
Enfrentam o público diariamente, que pode aplaudir ou não. Gostar ou não. Entender uma piada ou não.
Um palhaço não diz que o respeitável público é culpado por não rir de uma brincadeira. Um palhaço se esquece de suas tristezas, já que todos passam por momentos difíceis, para fazer o espetáculo, pois o show não pode parar. Talvez a intenção do Conar tenha sido, então, somente elogiar o consumidor.