Muito cuidado ao entrar em uma loja de operadora para contratar ou modificar um plano, trocar de chip para microchip ou qualquer outra coisa referente à sua conta de celular. Por alguma orientação para cumprimento de metas, você quase certamente vai contratar, sem saber, algum serviço adicional, que terá custo mensal.
Cito um personagem real, acostumado a defender seus direitos nas relações de consumo. Não acredita em Papai Noel nem em Coelhinho da Páscoa. Pois, ainda assim, já foi enganado várias vezes.
Um atendente da loja da operadora disse, por exemplo, que ele teria direito a mais um chip (número) na conta, pelo qual pagaria usasse ou não. Então, melhor usar, não? Mentira, descobriu mais tarde, ao ligar para o SAC. Outra atendente empurrou um chip, afirmando que, por 12 meses, aquela linha não seria cobrada como extra, desde que fossem utilizados, no total, os minutos previstos em contrato. Mentira, já que ele teria de pagar quase R$ 30,00 mensais a mais pela linha adicional.
Ela ofereceu um desconto no valor pago pelo cliente, e garantiu que não haveria fidelização. Mentira, era fidelização, sim.
Para completar a história, meu amigo recebeu uma conta recheada de zeros à direita. Foi checar, e viu que haviam cobrado caro pelo envio de SMS, embora torpedos ilimitados constassem do plano. Ao ligar para a central de atendimento, o atendente informou que, por erro (?) ou negligência do vendedor da loja, os dois dependentes de seu plano foram tarifados pelo contrato anterior.
O valor foi corrigido, mas ele perdeu quase uma hora ao telefone, além do susto de ter recebido uma fatura absurdamente cara. Sem contar o desgaste familiar, pois sempre consideram que a pessoa foi descuidada ou ‘ingênua’ (leia-se tola).
No caso da troca de chips (do padrão tradicional para micro, exigência de diversos modelos mais recentes), o temor de comparecer às lojas da operadora criou até um comércio paralelo de ‘recortadores’ de processadores. O que é totalmente compreensível, porque o consumidor só paga o custo da tesourada no chip. Isso se tudo correr bem, e o chip não for danificado.
É por essas e outras que tenho tratado tanto de telecomunicações. Não é possível que estes abusos continuem impunes. As autoridades têm de tomar providências. O brasileiro, que entende de futebol (porque gosta) e que já se especializou em inflação (pela necessidade, maior no passado do que hoje), agora tem de se tornar experiente também em telecomunicações.
Uma das saídas para estes casos seria a padronização. Mesmo que fossem oferecidos 100 tipos diferentes de planos, eles deveriam ser padronizados, para permitir fácil e rápida comparação de preços e de condições.
As punições também teriam de ser modificadas – hoje, parecem não assustar as empresas do ramo.
Fazendo contas bem simples, imagino que as perdas dos cidadãos possam atingir cifras bilionárias. Considere-se que somente em um boleto desta pessoa que cito o erro superava R$ 600,00. E que há 271 milhões de celulares no país.
O que as pessoas poderiam e deveriam fazer? Bem, por mais chato que pareça, ler atentamente contratos (que teriam de ser melhorados, pois são cheios de detalhes e de letras miúdas), perguntar muito, esquadrinhar os boletos mensais em busca de erros e recorrer ao SAC e às entidades de defesa do consumidor, quando o problema não for solucionado. Se ainda assim não obtiver a solução esperada, ingressar com ação na Justiça.
Também é importante valorizar as eleições em todos os níveis, algo que já enfatizei neste espaço. De que lado estão aqueles que você ajudou a eleger? Do seu ou das operadoras?
A má notícia é que, apesar de alguns avanços recentes, como a possibilidade de cancelar os contratos automaticamente, sem interferência de atendentes, ainda teremos de falar e escrever muito sobre este tema. Não há um indício claro de mudanças neste cenário.
Talvez amanhã. Hoje, não acredito.