Os novos velhos consumidores

Por Maria Inês Dolci

Uma das principais tendências mundiais, nos últimos anos, é, felizmente, viver mais. Hoje, não é tão raro alguém assoprar 100 velinhas no bolo de aniversário, algo impensável há alguns anos.

As pessoas mais velhas, contudo, enfrentam desafios como os custos da saúde, justamente quando necessitam de mais consultas, exames, internações e medicamentos. Também sofrem com as filas intermináveis nos serviços públicos.

Há conquistas, evidentemente, como o direito ao passe-livre e a prioridade nas filas de bancos, farmácias, lojas etc.

O fato de receberem aposentadorias, pensões e, em alguns casos, terem uma poupança acumulada ao longo das décadas, atrai, por outro lado, golpistas de todos os tipos. Não somente os criminosos comuns, mas também os ‘espertos’, que se aproveitam da má audição, da falta de familiaridade com a Internet e com as vendas por telefone, para explorar os incautos.

Como proteger pais, avós e tios? O primeiro passo é não tratá-los como se não tivessem vontade nem experiência. Conversar abertamente sobre as formas utilizadas para tomar dinheiro deles. Caso tenham doenças que os façam se esquecer de seus atos, contudo, é perigoso que utilizem cartões de crédito e de débito.

Ainda nessa linha de raciocínio, nós, parentes e amigos, temos de encontrar tempo para dar atenção a eles, pois a solidão e o isolamento podem fazer com que conversem com quaisquer pessoas e confidenciem detalhes de suas vidas – inclusive financeiros – o que facilita todo tipo de engodo.

Para complicar esse quadro, há ainda que ficar de olho, infelizmente, em alguns parentes que avançam nos recursos financeiros de pais e avós. É triste, mas muitos agem sem nenhum escrúpulo, por meio de chantagens emocionais e de ameaças.

Se o idoso não tiver condições de movimentar sua conta bancária, vá com ele à agência e evite que peça ajuda a desconhecidos para sacar dinheiro ou conferir um extrato. Combinar com eles e com o gerente da conta-corrente para que tenham limites de saques e de compras com cartões é outra providência que amplia a segurança dos mais velhos.

Quem tiver saúde, um dia enfrentará desafios semelhantes. Nossa preparação para a velhice deveria ocorrer no cuidado e carinho àqueles que já chegaram lá. Essas pessoas merecem um respeito adicional, pois venceram inúmeros obstáculos antes de fazer 70 anos ou mais. Estudaram, trabalharam, criaram os filhos e fizeram muitas coisas relevantes para os próximos e para o país.

Ainda têm pouco retorno dos impostos que pagaram toda a vida (e que continuam pagando, por exemplo, nos serviços e produtos que utilizam). Fala-se muito em proteger os idosos, mas faltam medidas efetivas que melhorem suas vidas e facilitem sua locomoção e diversão.

Em nosso mundo ocidental, em que cidadãos são avaliados pela produtividade e renda, não é nada fácil ficar mais velho e manter a autoestima. Confundem-se limitações da idade com inutilidade, o que é um absurdo colossal.

Por outro lado, o consumidor da chamada terceira idade cresce em quantidade e importância. Algumas organizações já perceberam isso, e adaptam o atendimento às suas necessidades e especificidades.

Oferecem mais conforto e segurança a eles.

Seria um excelente indício de novos tempos para estas pessoas se as lojas fossem obrigadas a expor os preços por litro, metro e quilo, e os fabricantes a fazer rótulos e embalagens legíveis também para quem tem mais dificuldades visuais.

Essas medidas ajudariam os idosos a comparar preços, a separar o joio do trigo nas promoções do comércio e atenderia a um dos preceitos do Código de Defesa do Consumidor, o direito à informação.

O Estatuto do Idoso é muito importante, mas precisamos de mais iniciativas para proteger os que ganharam mais tempo de vida, com os avanços da medicina. Viver mais é muito bom. Com qualidade de vida, melhor ainda.