É preocupante a queda de braço entre governo federal e companhias aéreas. E, se me permitem, um tanto extemporânea. Em dezembro de 2006, portanto, há mais de sete anos, o país foi informado oficialmente que sediaria a maior competição internacional de futebol.
Houve, consequentemente, tempo de sobra para tratar de tratar de infraestrutura e de logística. Seria viável, nesse período, até planejar e construir estações de metrô, quanto mais combinar uma estratégia com TAM e Gol (as duas maiores empresas a transportar passageiros pelos céus do Brasil) para que as passagens não ficassem extremamente caras, nem houvesse atrasos, overbooking etc.
No ano passado, contudo, quando foram divulgados preços de vôos São Paulo-Rio, foi ligado o sinal amarelo no semáforo de crises do governo. Um tanto tarde, diga-se de passagem, sem trocadilho.
Anunciar que companhias internacionais poderão, eventualmente, operar no país se as tarifas aéreas forem majoradas abusivamente, desculpem-me, é um tiro de espoleta. Como vários especialistas e autoridades internacionais da aviação deixaram bem claro, não é do dia para a noite que uma empresa se estabeleceria no Brasil e começaria a operar.
A propósito, todas as providências em infraestrutura tardaram a ser tomadas. As concessões dos aeroportos ficaram para a 23ª hora. Um gol de canela no finalzinho do jogo.
A parte do leão dos recursos públicos para a Copa de 2014 foi investida em estádios caríssimos, vários deles sem utilidade pós-competição. As obras viárias que melhorariam a vida dos cidadãos por muitos anos, contudo, praticamente não saíram do papel, salvo exceções.
Essa dificuldade de planejar, orçar e executar é atávica no Brasil e, justiça seja feita, não é exclusiva dos atuais mandatários públicos. Assemelha-se mais a uma característica do que a uma exceção.
O que seria possível fazer, então, agora?
Talvez firmar um termo de ajuste de conduta. E sinalizar claramente uma nova política de impostos (e preços) para o insumo fundamental das companhias aéreas, o querosene de aviação. Quanto ao consumidor, deve reclamar imediatamente dos eventuais abusos, nos órgãos de defesa do consumidor.
Em um mundo globalizado e no qual os países competem ferozmente por mercados, investimentos e empregos, não se admitem mais custos tão díspares.
O problema do transporte aéreo não levou ninguém às ruas nos protestos da metade do ano passado, mas a mobilidade urbana irrita e incomoda a população. Desculpas não vão solucionar essas questões.
Antes, dizia-se que somente ricos viajavam de avião. Nos últimos anos, com o crescimento da renda, cidadãos de classe média baixa e até de baixa renda tiveram acesso às suas primeiras viagens aéreas.
Em um país com dimensões continentais, viajar assim não é luxo, e sim uma necessidade. Milhões de brasileiros moram em estados do Centro-Sul, distantes de seus parentes na região Nordeste. São trajetos de milhares de quilômetros, que levam dias a ser percorridos de ônibus. E não há, lamentavelmente, trens rápidos (nem lentos!) para transportar passageiros.
Além disso, não podemos nos esquecer de que a economia viaja, em parte, de avião. A rota São Paulo-Rio, por exemplo, é essencial aos negócios. Multiplicar o custo desses vôos significa encarecer produtos e serviços, que até os mais pobres pagam.
Se nem uma Copa do Mundo de Futebol estimulou os governantes a melhorar este quadro, teremos de cobrar mais ainda o aperfeiçoamento da mobilidade. O direito de ir e vir está consagrado no Brasil. De direito, mas não de fato.
As concessões de aeroportos e de rodovias começaram tarde. Temos de recuperar o tempo perdido e acelerar muito este processo. Barco parado não ganha frete, afirmavam os antigos. País parado perde a corrida do desenvolvimento em um mundo desigual, competitivo e, muitas vezes, cruel.