Ser desmancha-prazeres é um papel difícil, que, às vezes, temos de exercer em defesa dos interesses dos consumidores.
Agora, em pleno mês do Natal, em que as pessoas começam a planejar as suas ceias e a comprar presentes e (como ocorreu na promoção ‘Black Friday’, na última sexta-feira de novembro) não posso deixar de advertir: muita calma nessa hora! As taxas de juros voltaram a subir depois das barbeiragens da política econômica do governo federal, e nós vamos pagar essa conta.
Na esteira da taxa Selic (que só vigora, mesmo, para algumas operações financeiras), os juros cobrados dos consumidores estão em alta. Ou seja, não podemos nos atirar às compras sem fazer muitos cálculos antes.
Muito menos nos esquecer de que, se há ingressos maiores do que em outros meses – 13º salário, participação nos lucros, bônus de final de ano, antecipação de férias –, também se concentram neste período compromissos como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), que será majorado em até 20% em São Paulo.
Além disso, também no início do próximo ano, teremos de arcar com o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotivos (IPVA), e com mensalidades escolares que sempre sobem acima da inflação, sem contar material, livros e uniformes. Quem extrapolar nos gastos de Natal, Ano-Novo e férias, começará 2014 com pouco dinheiro para tantas contas. E ainda terá, em abril, de acertar as contas com a Receita Federal.
Minha sugestão não é, contudo, que você não aproveite as confraternizações de final de ano, muito menos que não desfrute das férias.
O ideal é manter uma planilha com todos os principais desembolsos financeiros que terá até abril. Some tudo e diminua do que receberá até lá, incluindo as receitas extras. Profissionais liberais devem considerar que, em algumas áreas, os ingressos caem fortemente entre o natal e o carnaval.
Não conte com futuros reajustes salariais ou de serviços que você presta, exceto se tiver certeza absoluta de que os receberá.
Se possível, pague primeiramente as dívidas, antes de contrair novos compromissos financeiros. Escolha presentes, ceias e viagens que caibam em sua renda familiar. Nos últimos anos, até as famílias começaram a fazer ‘amigo secreto’, para reduzir o desembolso com presentes.
A economia brasileira não cresce expressivamente desde 2010. Isso se reflete nos empregos e na prestação de serviços. Os negócios escasseiam e a renda média cai, porque também enfrentamos uma inflação teimosa, embora nem de longe lembre a que nos assombrou nas décadas de 1980 e 1990. Os reajustes dos combustíveis devem pressionar os preços, porque o óleo diesel, utilizado no transporte de passageiros e de cargas, subiu 8% na refinaria.
Atualmente, temos mais gastos fixos, que comprometem parte expressiva de nossa renda: impostos, telefones celulares, acesso à Internet, TV por assinatura, plano de saúde, escola particular, refeições fora de casa, medicamentos, estacionamento, seguros etc.
Pessoas que herdaram casas e apartamentos valorizados, frequentemente não têm condições de pagar a mensalidade do condomínio nem o IPTU (antes do superaumento com que fomos presenteados em São Paulo). Os governos avançam em nossos bolsos com uma voracidade de pragas na lavoura.
A derrama tributária e fiscal está embutida em todos os bens e serviços que adquirimos. Não param de nos ligar para nos oferecer produtos de que não necessitamos, por preços que não deveríamos pagar.
O sentido do Natal é a reunião familiar e de amigos, mesmo para os não religiosos. Tem a ver com valores humanos, não com consumismo.
Os padrões de consumo da atualidade são incompatíveis com o planeta em que vivemos. Não haverá água, energia elétrica, combustíveis, comida e conforto para todos, se não aprendermos a consumir de maneira mais consciente e equilibrada.
Dezembro é, sim, um mês excelente para refletirmos sobre tudo isto. Vamos iniciar um novo ano, o que sempre abre espaço para um balanço sobre nossas vidas. Vale a pena considerar, também, hábitos mais adequados um mundo que se transforma diariamente. Nem por isso deixaremos de nos divertir e de ser felizes, até porque a felicidade não se relaciona exclusivamente aos bens que possuímos.
Papai Noel um pouco mais magro não significa que a festa será menos animada.