Era uma vez um fruto vermelho, de sabor inconfundível, campeão das saladas e molhos, principalmente em receitas italianas. Nos primeiros quatro meses de 2013, o preço do tomate nosso de cada dia subiu mais de 70%. Foi o vilão da inflação daquele período. Depois, seus preços desabaram, e voltou aos carrinhos dos supermercados e à mesa dos brasileiros.
Mais recentemente, o posto foi ocupado pelo leite longa vida, que encareceu 25% este ano.
O que aprendemos com as variações de preços de produtos básicos para a alimentação, higiene pessoal e limpeza doméstica? Primeiramente, que estamos, felizmente, distantes dos tempos da hiperinflação, com inflação mensal recorde de quase três dígitos.
Também entendemos que o Brasil não está totalmente imune ao aumento do custo de vida. Barbeiragens de política econômica, geralmente, desequilibram o mercado e se transformam em preços enlouquecidos.
Vejamos o caso dos combustíveis. Nos últimos anos, os governantes bateram bumbo para anunciar que estávamos a um passo da autossuficiência em petróleo. Na verdade, importamos muito combustível, em função do estímulo público ao crédito automotivo.
Ficou muito mais fácil comprar um automóvel em tempos recentes, pela ampliação do prazo dos financiamentos. Com isso, a Petrobrás passou a comprar mais petróleo. E, o que é pior, o real se desvalorizou frente ao dólar, tornando esta conta mais salgada.
Isso significa, segundo especialistas, uma defasagem de até 30% entre o que a estatal paga e o que recebe. Certamente, o governo terá de reajustar os preços, ainda que bem abaixo da realidade de mercado.
Haverá, então, alguma pressão inflacionária, e talvez tenhamos um novo vilão da carestia.
O que nos cabe, como consumidores, é cortar da lista de compras itens cujos preços estejam acima do razoável. Substituí-los por similares, ou simplesmente deixar de consumi-los por um período suficiente para que fiquem mais baratos.
Nosso poder, nesta relação de consumo, é este. Por mais que haja explicações climáticas, safras etc. não se justifica pagar por um alimento que estaria mais bem exposto em uma joalheria do que no supermercado.
Questionado sobre o motivo pelo qual os carros são tão mais caros no Brasil do que no exterior, mesmo descontados os impostos, um executivo de montadora foi direto ao ponto: porque os brasileiros pagam.
A realidade é essa. Pagamos mais por shows internacionais, pela refeição fora de casa, telefonia móvel, acesso à banda larga, automóveis e imóveis. Abrimos a carteira e referendamos abusos contra nossos orçamentos.
Uma amiga estava atenta a casas colocadas à venda em seu bairro, na Zona Oeste de São Paulo, pois o filho pensava em fazer negócio. Um dia, viu uma casa simples com uma placa de vende-se. Anotou o número do telefone e o repassou ao filho.
A dona queria R$ 1 milhão. Ele não se interessou. Meses depois, a proprietária ligou e ofereceu o imóvel por um preço bem menor. Até recentemente, a placa continuava no mesmo lugar. Dinheiro não nasce em árvore.