Insegurança alimentar?

Por Maria Inês Dolci

Catchup  e molho de tomate com pelos de roedores; larvas em chocolates; leite contaminado; alto teor de sódio em alimentos diet e light. Ao mesmo tempo, exportadores brasileiros estão assustados com as futuras regras da Lei de Modernização da Segurança Alimentar (FMSA, na sigla em inglês), que deverão vigorar em 2014.

Por aqui, tem havido um jogo de empurra entre fabricantes, lojistas e distribuidores de produtos importados. Ninguém se responsabiliza por problemas sérios, que podem afetar a saúde de milhões de brasileiros.

Não é possível que o consumidor compre catchup com pelos de rato. É um produto utilizado majoritariamente por crianças e adolescentes.

Da mesma forma, é inadmissível que produtos light e diet contribuam para os riscos da hipertensão. E que pães, bolos, massas e outros produtos tidos como integrais não o sejam, necessariamente, devido às lacunas legais para definição destes alimentos.

O aumento da longevidade, as orientações dos médicos e nutricionistas e as constantes divulgações dos benefícios de uma dieta mais saudável fazem com que nos preocupemos mais com nossa alimentação. Por outro lado, a globalização tornou bem mais complexo o rastreamento de produtos, uma vez que a produção ocorre ao redor do mundo.

É hora de discutir uma lei de segurança alimentar, a exemplo do que os Estados Unidos estão fazendo. Temos de regular melhor os produtos alimentícios, com foco na saúde, na segurança e na qualidade de vida.

Ainda comemos muito sal, açúcar e gorduras. Há uma epidemia de obesidade que afeta crianças e jovens. O Senado Federal acaba de aprovar lei que proíbe as cantinas escolares de vender alimentos com baixo valor nutricional ou ricos em gordura e sódio.

Será votado na Câmara e espero, sinceramente, que seja aprovado sem perda de seus objetivos. Ou seja, combater a obesidade infantil. Crianças e jovens acima do peso terão mais doenças evitáveis, comprometendo seu desenvolvimento e a saúde ao longo de suas vidas.

Outro aspecto que teríamos de incluir neste debate da alimentação segura seriam as substâncias já proibidas em outros países, ainda liberadas por aqui.

O Serviço Russo de Fiscalização Veterinária e Fitossanitária está de olho nas empresas de avicultura do Brasil, em função do uso de soluções com teor de cloro para desinfetar seus produtos. E à presença, em alguns casos, de ractopamina, estimulador do crescimento.

Mas um protocolo de segregação de animais poderá liberar o uso das substâncias zilpaterol e ractopamina, beta-agonistas, não aceitas pela União Europeia e pela Rússia.

O uso delas em bovinos está suspenso desde novembro do ano passado, justamente devido às pressões dos importadores.

Uma perguntinha: se os animais criados com estes aditivos forem segregados, só poderá significar que teremos dois tipos de carne: um para exportação, outro para os brasileiros? E que consumiremos algo que não é admitido fora do país?

Defendo que empreguemos, no mercado nacional, os padrões internacionais de qualidade e segurança alimentar. Não há porque comer e beber, no Brasil, produtos com substâncias consideradas nocivas à saúde em países desenvolvidos.

Isso nos torna, por enquanto, consumidores de segunda classe.

Temos de lutar por normas mais rígidas, que igualem os produtos exportados ou fabricantes para consumo local. Tal atitude, além de melhorar os alimentos à disposição dos brasileiros, também contribuiria para reduzir os riscos à saúde e os consequentes gastos com assistência médica, medicamentos e internações, tanto públicos quanto privados.

As autoridades dos três poderes têm o dever de liderar a discussão destes temas. Faz tempo que as entidades de defesa do consumidor indicam ameaças à segurança dos cidadãos. Em meio à pasmaceira econômica que vivemos, e à necessidade de aumentar a produtividade de nossas indústrias, essa discussão e o estabelecimento de um novo marco legal faria bem a todos nós.