Com mais de 60

Por Maria Inês Dolci

A expectativa de vida aumentou 11 anos no Brasil, de 1980 para 2010, revelou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse crescimento da longevidade foi ainda mais expressivo na Região Nordeste do país, com mais 13 anos.

É uma boa notícia, quase um oásis em meio às “duchas de água fria” na área econômica, como a pressão inflacionário renitente, déficit na balança comercial (mais importações do que exportações) e ligeiro aumento do desemprego.

Não podemos, contudo, somente soltar foguetes com o aumento da vida média dos brasileiros. Deveríamos, isto sim, melhorar geometricamente a qualidade dos serviços públicos e privados prestados a esta camada da população.

Já tratei deste assunto algumas vezes, mas a falta de providências dos governantes me autoriza a voltar ao tema.

Não vou nem abordar saúde, transporte e segurança públicas,  já que este espaço é voltado aos direitos do consumidor.

Hoje, as pessoas com mais de 60 anos são onipresentes, por exemplo, nas farmácias, uma vez que não é incomum que tenham uma ou mais doenças crônicas. Trata-se de um pedágio que pagamos pela vida mais longa. Cabe ressaltar que ter doenças contínuas não significa incapacidade, muito menos recolhimento ao lar ou casas de saúde.

Mas representa, sim, utilizar medicamentos para sempre, para combater, por exemplo, hipertensão arterial e diabetes. O programa Farmácia Popular, do Ministério da Saúde, cumpre importante função, portanto, ao oferecer remédios gratuitos aos brasileiros de baixa renda.

Falta, contudo, conforto para os mais velhos que vão às farmácias, supermercados, lojas de vestuário, shoppings e locais públicos de diversão, como parques e praças.

Os produtos deveriam ter  letras maiores nas etiquetas, para facilitar a leitura de especificações e preços. Também defendo há muitos anos que contenham os preços relativos (por metro, quilo e litro), para que os consumidores possam comparar preços, uma vez que são vendidos em pesos e medidas diversos.

Não é possível, também, que estabelecimentos grandes não tenham áreas de descanso para os idosos, pois uma pessoa com mais de 80 anos pode (e deve) sair de casa e fazer compras, se não tiver uma doença que impeça a mobilidade. Deveria contar com cadeiras e bancos para fazer uma pausa, descansar um pouco e recarregar as energias.

Em um país que terá 32 milhões de pessoas a partir dos 60 anos, agir assim será um diferencial de mercado. Uma fidelização – para usar palavra que os empresários e executivos adoram citar – verdadeira, real, com benefícios para os dois lados das relações de consumo.

Até porque se pode prever que, nos próximos anos, os eleitores de mais idade se organizarão para cobrar aposentadorias e pensões mais dignas, o que tende a aumentar o poder de compra destes cidadãos.

Abordei a questão do conforto e da gentileza, mas não podemos deixar de lado a segurança. Há que colocar, em todos os locais de circulação público, pisos antiderrapantes, barras de apoio nos banheiros e corrimãos adequados nas escadas.

É urgente, também, punir com mais rigor os que estacionam em vagas para idosos. E educar a nova geração para que respeite as preferências destas pessoas nas filas de lojas e bancos.

Outra dica para as empresas de todas as áreas: treinem seus funcionários para atender os ‘ários’: sexagenários, septuagenários, octogenários etc. É evidente que, liberados, muitas vezes, das obrigações com filhos e trabalho, tenham mais flexibilidade de horários e desejo de socialização, ou seja, conversar mais.

É importante que sejam atendidos sob este prisma, de mais humanização e respeito. Se não porque serão consumidores cada vez mais essenciais aos negócios, porque todos os que vivermos chegaremos lá. Uma boa razão, sem dúvida, para prestar atenção a eles do jeito que merecem.