Alguém aí ficou surpreso com a notícia de que as teles lideraram as reclamações ao Procon-SP no primeiro semestre do ano? O setor de telecomunicações teve mais de 39 mil queixas, 30% acima das registradas em igual período de 2012.
Isso engloba não somente telefonia móvel, mas fixa, acesso à internet e TV por assinatura.
Na verdade, além de não ficar surpresa, tenho sempre a impressão, em se tratando dessa área, de subnotificação de manifestações, porque o serviço é muito ruim. Uma ligação de alguns minutos não é garantida, dependendo da região, nem em grandes cidades como São Paulo, que fará no interior deste país-continente.
Tente assistir um bom filme, no sábado à noite, na TV paga, se tiver sorte.
É estranho, aliás, que as mesmas ligações de celular que não funcionam bem na maioria do Brasil, vençam todas as tentativas de bloqueio nos presídios do país. São as ironias da vida, não?
Recentemente, tivemos de aguentar a louvação da tecnologia 4G – a quarta geração da telefonia que seria similar a um bólido, veloz e flamejante, mas que não funcionou bem nem nos estádios da Copa das Confederações.
E que foi lançada com louvores e ademanes pelas autoridades, que deveriam estar ao lado da população, e não de companhias que prometem, cobram, mas não entregam os serviços contratados.
Antigamente, quando algo não tinha valor, dizia-se que era de ‘meia-pataca’. Quantas patacas valem ligações interrompidas, conexões de banda larga que se arrastam, TVs com muitos anúncios e pouca diversão?
As teles, a propósito, descumprem as metas de qualidade para internet móvel, e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) diz que “precisam investir mais”. Ah, bom.
Pois é, lamentavelmente, o Ministério das Comunicações e a Anatel continuam passando a mão na cabeça das operadoras, perdoando erros contumazes e não exigindo melhores serviços. O pior é que os preços da telefonia no Brasil estão nas primeiras posições do ranking mundial, da mesma forma que a TV a cabo e a conexão por banda larga.
Essas empresas copiam, na iniciativa privada, a péssima qualidade dos serviços públicos, bancados, até agora, por R$ 900 bilhões em tributos. Uma prática que transita da área pública para a particular sem nenhum acanhamento: cobrar, sempre, entregar, de vez em quando.
Se duvidar do que escrevo, tente ligar para um parente em outro Estado, ainda mais se morar em localidades a milhares de quilômetros das regiões Sudeste e Sul.
Mudam, portanto, os números da geração tecnológica, de 3 para 4G, só não se altera a qualidade da conexão.
O pior é que estamos nas mãos de poucas empresas, que deitam e rolam neste mercado passivo. Pescam em aquário e não respeitam o ecossistema dos negócios. Sacam rápido para inventar pacotes caros e ineficazes. Demoram uma eternidade para aperfeiçoar os serviços e atender condignamente os consumidores.
Estamos condenados a tal situação? Espero que não, mas, para transformar este cenário, há que pressionar as autoridades da área.
Sem concorrência real, as teles parecem nem ligar para as queixas que se avolumam. Afinal, há mais de um celular por habitante no Brasil. O tal aparelhinho caiu no gosto dos brasileiros, embora funcione mal.
Talvez porque dê a impressão de que conectará as pessoas, por mais distantes que estejam. Ou por ter tantas funções acessórias, mesmo que as principais não tenham a eficácia esperada.
Antes que me acusem de antitecnológica ou de inimiga das empresas, saliento que só gostaria que fosse cumprido o que estivesse em contrato. O combinado não é caro.
Prejudicar alguém, por meio de ardil, é um crime doloso, ou seja, cometido propositalmente. Então, o que estas empresas fazem, é crime de lesa-consumidor.
Os levantamentos, como este da Fundação Procon-SP, captam, portanto, uma triste realidade nas relações de consumo no Brasil.