Costumo dizer que não nascemos consumidores, nos tornamos com a idade, as experiências, a renda dos empregos ou investimentos e a necessidade de comprar produtos e serviços.
Do nascimento à infância, quem adquire brinquedos, roupas, livres, alimentos e outros itens para nós são nossos pais ou responsáveis. Claro que, cada vez mais cedo, os pequenos dão palpite, indicam o que gostam ou não, interferem nas compras.
Mas somente quando dispomos de mesada fixa ou de salário é que decidimos totalmente, de acordo com o dinheiro disponível, o que compraremos.
Esse fenômeno também ocorre com quem passa a dispor de renda por meio de algum programa governamental ou pelo aumento do salário mínimo, que repercute em toda as atividades profissionais.
Essa pessoa ou unidade familiar ingressa no mercado de consumo, pois antes não comprava com frequência.
Mesmo quem consome regularmente alimentos, roupas, medicamentos, transportes, brinquedos, também é neófito, às vezes, em aquisições de maior porte, como a casa própria e um automóvel.
O que pretendo enfatizar, é que as relações de consumo não são iguais, pois dependem de condição para bancar um produto ou serviço. Como tudo na vida, parte aprendemos na escola e pelos conselhos dos familiares, parte na prática.
É por isso que acredito em uma valorização ainda maior, nos próximos anos e décadas, dos direitos do consumidor. À medida que mais brasileiros tenham condições de comprar os bens de que necessitam ou que almejam, perceberão que estas relações são menos simples do que parecem.
A outra grande onda de mudanças na indústria, comércio e serviços já está em curso. Decorre da produção integral ou parcial fora do Brasil. Estamos nos acostumando a consumir produtos dos mais variados países, o que, de certa forma, nos desperta a curiosidade sobre outras características destas culturais e políticas destas nações.
Apesar de tudo isso, ainda engatinhamos na educação para o consumo. Avançamos, evidentemente, com o Custo Efetivo Total, que facilitou o entendimento de quanto custará, de verdade, um carro ou um empréstimo bancário, por exemplo.
Temos, porém, dificuldades de ler as letras miúdas dos contratos. Também sofremos com os termos técnicos, com as pegadinhas que escondem limitações de serviços.
É urgente que as escolas formem, também, consumidores conscientes. Que entrelacem algumas das disciplinas dos ensinos fundamental e médio, como matemática, a compras em lojas e supermercados.
O consumidor do futuro já nasceu. Ele se comunica, informa, estuda, diverte e acessa serviços pela internet. Está sempre conectado, por meio dos mais variados dispositivos.
As empresas que não atentarem para esta realidade não terão longa existência. Por mais bonitos e divertidos que sejam seus comerciais, não conseguirão vencer a concorrência.
O cidadão que transita com facilidade e familiaridade pelo mundo digital compara preços antes de ir à loja. Aliás, na maioria das vezes, compra o que deseja sem sair da frente do computador.
À medida que os novos consumidores, que ascenderam ao mercado nos últimos anos, se tornarem internautas, o mercado mudará para sempre. Quem desconhece como calcular os juros de um financiamento, utilizará um software para isso.
Se tiver dúvidas sobre um direito nas relações de consumo, usará um mecanismo de busca on-line para esclarecê-la em alguns segundos.
Poderá, por exemplo, informar-se sobre quais marcas de molho de tomate ou de leite em pó tiveram problemas nos últimos anos, antes da compra no supermercado.
Todas essas possibilidades – e milhares de outras – obviamente já existem. Quando virarem ferramentas habituais dos cidadãos, teremos consumidores mais preparados para exigir seus direitos.
Se os governos fizerem a sua parte, isto acontecerá bem mais rapidamente do que se possa imaginar, para o bem de todos, exceto dos que não respeitam o que estabelece o Código de Defesa do Consumidor.