Consumir com inteligência

Por Folha
Reutilizar a água da chuva para limpeza do prédio; não deixar a torneira aberta enquanto escova os dentes, nem o chuveiro ligado enquanto se ensaboa.
O que isso tem a ver com preparar alimentos com talos, raízes e folhas? Ou com energia solar, carona solidária, comprar as roupas que efetivamente serão utilizadas e partilhar livros, equipamentos e aparelhos que não são mais usados?
Tudo isso, meus caros, é uma mudança de atitude frente ao planeta. Pode ser resumido como consumo consciente, com redução do emprego de energia elétrica, água, combustíveis e matérias-primas diversas.
Não somente é algo que podemos, mas sim que devemos fazer.
Os impactos provocados pelo ser humano da Revolução Industrial –meados do século 18– são muito mais relevantes do que nos milênios anteriores.
Temos de nos preparar para algum momento em que a maioria dos hoje sete bilhões de habitantes da Terra terão condições de consumo mais dignas, ou seja, de se alimentar, morar, estudar, locomover, divertir e ter segurança.
Somente dois países do mundo, China e Índia, somados, já têm 2,5 bilhões de habitantes, e parcela considerável deles ainda não dispõe de nível de consumo de classe média.
Ora, o planeta não dobrará de tamanho. Apesar disso, não há certeza alguma de que encontraremos outros lugares para morar no sistema Solar ou em outras galáxias.
Então, teremos de contar com o que já conhecemos: um mundo em que, embora a água cubra mais de 70% da superfície, apenas 1% é disponível para o consumo.
Há várias iniciativas, felizmente, que reduzem desperdícios, geram menos resíduos e combatem o descarte de produtos. Outras continuam na contramão desta visão.
Prédios inteligentes ou verdes são bons exemplos de uma nova filosofia de vida. O simples fato de serem construídos para economizar água e energia, com facilidades para reciclagem de lixo, ajuda a mudar o perfil das metrópoles mundiais.
Lamentavelmente, em cidades como São Paulo, o transporte coletivo ainda é muito ruim e há intensa utilização do automóvel particular, com grande consumo de combustível e poluição ambiental.
Ainda há muitos edifícios no País, à beira-mar, totalmente vedados, em que não há como aproveitar da brisa marinha para diminuir o uso de ar condicionado. Não temos, também, o hábito de subir um ou dois lances de escada, o que aumenta sobremaneira a circulação de elevadores.
A entrega de comida em casa e no escritório (delivery) ainda é feita com quantidade excessiva de sacolas plásticas, guardanapos de papel e caixinhas de isopor. Não nos acostumamos a usar uma só caneca para beber café, água e chá, para diminuir o descarte de copos plásticos.
Em muitos condomínios e casas, a vassoura ainda perde de longe para jatos de água quente, em equipamentos que utilizam líquido tratado para consumo humano.
Há países de clima frio em que há muito mais emprego de energia solar do que em nosso Brasil tropical e equatorial. Também engatinhamos em termos de energia eólica e não conseguimos manter uma relação estável de produção e consumo de álcool combustível, menos poluente do que a gasolina e o diesel.
O desperdício, além de fazer mal ao planeta, é péssimo para o bolso. Comprar mais do que necessitamos é uma frivolidade que não deveria mais ocorrer em um
mundo com avanços em todas as áreas, especialmente na medicina e na tecnologia da informação.
Já desenvolvemos órgãos artificiais, fazemos transplantes bem-sucedidos, criamos terapias genéticas, mas não conseguimos equilibrar consumo, produção e renovação de recursos naturais.
Já poderíamos viver muito melhor em todo o mundo, se houvesse mais bom senso em nossa demanda.
Não estou propondo privações nem sofrimento, apenas a consciência de que, por exemplo, não razão para trocar de aparelho celular duas ou três vezes ao ano. Nem para colecionar carregadores de telefone.
Refrear o consumismo, não o consumo necessário, é a saída. Por bem ou por mal, aprenderemos a ter mais consciência nas relações de consumo.