Calma nos feirões

Por Folha
Que tal aproveitar mais um feirão para comprar um imóvel ou um carro novinho em folha? Vamos com calma, nada de açodamento.
Comprar preços e condições de uma casa nova ou de automóvel é bem mais fácil em um local em uma grande feira com múltiplas ofertas. Parece até ter produtos para todos os gostos e bolsos.
Nem tudo, porém, é o que parece, lastimavelmente.
Comprar por impulso não é recomendável, exceto se for um pastel acompanhado por um caldo de cana. Se não valerem a pena, a perda de dinheiro não pesará em quase nenhum orçamento.
Carros e casas, contudo, custam dezenas ou centenas de milhares de reais. Os financiamentos duram muitos anos.
Não estamos falando, então, de aquisições inconsequentes. Estamos tratando, isto sim, de projetos de vida. De algo que pesará, mensalmente, no salário ou na renda familiar.
Devemos, portanto, pensar muito bem antes de colocar nossa assinatura nestes negócios. Avaliar o tamanho do compromisso financeiro, simular situações diversas – como desemprego temporário ou um período de inflação mais acelerada não acompanhado pelos vencimentos.
Isso não é ser pessimista. Longe disso. É ser realista e pragmático. É projetar futuro sem óculos cor de rosa.
Quando pensamos nos prós e nos contras, não estamos tangenciando a paranoia, e sim sendo responsáveis e querendo cumprir nossos compromissos.
As empresas que promovem feirões não estão cometendo nenhum abuso. Ao contrário, efetivamente, oferecem opções variadas a quem precise dos produtos que expõem.
Cada um com sua obrigação. Eles têm de vender, para azeitar as engrenagens dos negócios. É assim que a economia se move, gera empregos, paga impostos e vai em frente.
O consumidor, contudo, tem outras preocupações e obrigações. Deve pagar as contas assumidas, sem afundar até os joelhos – ou mais – nas dívidas. O verbo dever, diga-se de passagem, é muito claro. Significa ter algo de outrem a devolver.
Ter, portanto, a obrigação ou a responsabilidade de fazer algo.
Logo, após assinar um contrato – desde que não haja pegadinhas nem infrações à legislação – temos de honrar o que foi contraído.
Feirão ou feirinha, há que pagar as mensalidades. Ou arcar com juros, correções e multas.
Não se pode adquirir um bem valioso sem ler atentamente o contrato e, se possível, recorrer a um advogado para avaliar as cláusulas dúbias e as entrelinhas.
Desconhecer uma lei não isenta ninguém de cumpri-la. É simples assim. Então, muita calma nesta hora.
Quanto maiores os benefícios, as vantagens, mais temos de avaliá-los cuidadosamente. Ninguém vende um produto por um preço muito inferior à média de mercado. Por que faria isso?
No mundo dos negócios, o interesse é o ganho, o lucro, e não ajudar alguém. Não se trata de egoísmo ou de atitude incorreta, mas sim das regras do jogo. Quem investe quer ser remunerado adequadamente pelo capital que banca um empreendimento.
Se alguém colocou seu dinheiro para construir um prédio ou casa, o mínimo que esperará será o retorno destes recursos. É importante lembrar-se disso se a esmola for grande demais.
Para acelerar as vendas, é provável que haja vantagens adicionais. Prazo mais amplo, redução da entrada, facilidades para obter crédito. O limite das concessões, contudo, será o mercado.
Qual o preço médio de um apartamento com dois quartos, garagem e piscina no prédio, naquela região? Se estiver muito mais barato, desconfie. Qual o milagre utilizado para uma oferta tão bacana?
Fazer estas perguntas, insisto, não se trata de encarar o mundo com péssimo humor. É ser cauteloso e valorizar o suado dinheirinho, proveniente de muito trabalho.
Não se apresse a assinar um contrato e um cheque. Às vezes, postergar uma compra é um grande negócio. Milagres acontecem, mas raramente no mundo dos negócios.