O que dizer de uma atualização do Windows que travou computadores de usuários brasileiros? A companhia disse que as falhas não resultaram em perdas de dados e nem afetaram todos os usuários do Windows.
Tive a impressão de não ter lido nenhum pedido de desculpas pelo transtorno causado aos consumidores.
Isso é ainda mais impactante porque esta empresa detém praticamente o monopólio de sistemas operacionais, aqueles que fazem um computador começar a funcionar.
O Procon-SP fez a sua parte, ao notificar a empresa. Cabe a quem foi lesado recorrer à Justiça para reparação dos danos.
As atualizações são enviadas pelas companhias que desenvolvem softwares aos usuários. Deveriam ser totalmente confiáveis. Até porque já há vírus e outros malware (programas que se infiltram nos equipamentos para danificá-los ou roubar dados) produzidos e disseminados quase que diariamente, por bandidos espalhados pelo mundo afora.
A tecnologia da informação é a indústria mais importante do mundo, pois nada se faz sem ela. Tente imaginar educação, saúde, segurança, transporte, lazer e qualquer ramo de trabalho sem computadores, redes, impressoras, scanners e programas diversos.
É lamentável que as opções, em alguns segmentos, sejam poucas. Uma marca que dá as cartas, quase como monopólio, pode provocar problemas e nem se desculpar. Essa é uma característica da falta de competição em segmentos vitais da economia.
As tentativas de criar opções ao Windows não foram tão bem sucedidas, porque há um esquema comercial azeitado entre fabricantes de hardware e software. Os micros já chegam a nossos lares e escritórios com o sistema operacional instalado.
E os aplicativos, que ajudam o usuário a fazer algo específico (escrever um texto, editá-lo, fazer uma planilha ou uma apresentação) também são, em sua maioria, da mesma produtora do Windows.
Por sorte, há opções em navegadores (browser) para a internet.
Mas este cenário tende a mudar, não por ação de algum ente regulador. A mobilidade – com o advento dos dispositivos que recebem e fazem chamadas telefônicas, acessam e-mails e a web – fez com que caíssem as vendas de PCs, os computadores pessoais.
Hoje, há várias formas de conectar os sites favoritos. Neste novo mundo, com tal variedade, dificilmente teremos de prestar reverência a um só fornecedor.
Então, esta lamentável situação da semana passada não tenderá a se repetir, futuramente, não por respeito aos direitos do consumidor, mas devido às mudanças tecnológicas em curso.
O que não isenta a Microsoft por agir arrogantemente, ao não se desculpar claramente pelas dificuldades provocadas a seus clientes.
Infelizmente, isso não é exceção, embora o Código de Defesa de Consumidor (CDC) tenha chegado à maioridade.
Teoricamente, quem desenvolve produtos assim deveria se alinhar ao que de mais avançado existe. Não é o que acontece, contudo. Produtos e serviços são ‘top’, mas as formas de vendas e pós-vendas, entretanto, estão longe deste nível.
Acordar, ligar o micro e não conseguir ver seus arquivos, porque uma atualização não funcionou adequadamente, não é uma brincadeira. Atrapalha a agenda do dia, no mínimo.
Se parece bobagem, exagero de quem reclama, é porque ainda não há um foco verdadeiro – e não apenas mercadológico, falso – no consumidor. Temos de evoluir e reclamar para mudar esta situação.
Desrespeitar os direitos de quem compra um sistema operacional, pela preocupação com quem utiliza este programa sem pagar, não se justifica.
Pedir desculpas não diminui ninguém. Pelo contrário, dizer que foi tudo bem, quando houve um erro, é um equívoco, que não combina com o período em que estamos vivendo.
Mudar não é opcional, é fundamental. Quem não avalia isso o tempo todo está flertando com crises.