O que o consumidor pode fazer contra a inflação? Não comprar, respondo sempre.
Vejamos o caso do tomate, indispensável nas saladas, nos molhos de macarrão e pizza.
Pagar R$ 8 ou R$ 9 o quilo deste fruto é uma loucura, não importa o que tenha provocado o aumento de preço. Então, enquanto o tomate estiver caro assim, abra mão dele e faça outros tipos de comidas.
Se não agirmos dessa forma, não poderemos reclamar da carestia, velha expressão que volta à baila, pois estamos enfrentando uma estagflação, a maléfica combinação de estagnação econômica com inflação em alta.
Parte desse aquecimento dos preços decorre de uma situação extremamente positiva, a inclusão de milhões de brasileiros no mercado de consumo. A demanda aumentou e não foi acompanhada pela produção.
Mais pessoas passaram a se alimentar, algo que parece elementar, mas havia milhões de pessoas na miséria e fome. Problemas climáticos – chuva em excesso em alguns estados, estiagem em outros – e de mercado completaram o cenário de pressão sobre os custos de produtos tão diversos quanto alimentos e álcool combustível.
Cabe às autoridades que comandam a economia, obviamente, encontrar formas de deter o aumento do custo de vida, sem depender exclusivamente da elevação das taxas de juros, veneno que contém preços, porém faz estragos na atividade produtiva e no nível de emprego.
Temos, entretanto, de contribuir para que não haja abusos ainda maiores, como ocorrido nas farmácias, que anteciparam em mais de uma semana o reajuste das tabelas dos medicamentos.
Notamos, também, que restaurantes, bares e estacionamentos nos arrancam o couro, ao passo que os salários nem de longe acompanham a remarcação de preços.
Por sorte, não vivemos situação similar à da Argentina, cuja inflação verdadeira é de 25% a 30%, embora o governo divulgue índices bem menores. Não podemos, contudo, nos descuidar.
Até porque os sinais não são claros: a cesta básica do Procon-SP registrou, de 1 a 4 de abril, queda de 0,48%, mas subiu 13,19% nos últimos 12 meses (sobre o dia 4 de abril de 2012).
Há cerca de um mês, foi anunciada pelo governo federal a desoneração da cesta básica. Foram zerados o PIS-Cofins e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de 16 produtos. Os consumidores, porém, ainda não sentiram efeitos tão positivos desta medida.
A espiral ascendente de custos é realimentada, sem dúvida, pela burocracia, os impostos e os oligopólios. O Custo Brasil é relevante, e impacta produtos e serviços.
O estado brasileiro é perdulário, ávido por arrecadação e, como todos os governos, péssimo em gestão.
Interesses e feudos político-eleitorais não combinam com eficiência administrativa. Ao contrário, são antídotos contra o crescimento e o desenvolvimento econômico e social.
Você pode, porém, caro leitor-consumidor, dizer não àqueles que queiram lucrar muito em cima de poucos.
Há produtos que, gradativamente, encareceram, e que nunca mais retornaram aos preços de antigamente. O feijão nosso de cada dia ilustra bem isso.
É fundamental, então, boicotar as mercadorias que se tornaram caras demais. Quem paga qualquer preço, simplesmente porque tem condições financeiras para tal, está prejudicando milhões que contam as moedas ao fazer as compras no supermercado.
É injustiça com os mais pobres, para quem a cesta básica pesa muito mais no bolso. Ninguém ficará mal por evitar, durante algumas semanas, o consumo de tomate, até que o custo deste fruto volte a patamares anteriores.
Como os preços decorrem da lei da oferta e da procura, vamos fazer a balança pender em nosso favor, pelo lado do consumo. Essa atitude não será eficaz somente em relação ao tomate, mas também sinalizará uma postura de não aceitação de determinadas práticas comerciais.
Não faça o jogo dos especuladores e atravessadores, que compram mercadorias baratas dos produtores, e aplicam sobrepreço para enriquecer. Controle o desejo por alguns itens, até que fiquem mais em conta. Isso é cidadania nas relações de consumo.