Aonde vai nosso rico dinheirinho

Por Folha

Buracos negros são regiões do espaço das quais nada pode escapar. Lembrei-me deles ao analisar as contas do mês. Se você também fizer isso, caro leitor, com olhos de lince, perceberá que parte expressiva do seu salário desaparece, todos os meses, sem deixar vestígios, para pagar serviços que se sofisticam e encarecem.

Um casal de amigos se deu conta, mais recentemente, que quitava, mensalmente, vários boletos de uma mesma operadora de telecomunicações: de telefone fixo, de TV por assinatura e celular (conta familiar, com três números). Somente para se comunicar e divertir, portanto, despendem mais de um salário mínimo.

Outros redemoinhos que engolem muito dinheiro, semanalmente, são as idas a bares, restaurantes e sessões de cinema. Sem contar viagens e demais atividades de lazer.

As pessoas que já passaram dos 40 anos se tornam, compulsoriamente, clientes de farmácias, pois aumentam em quantidade e frequência os exames de rotina e os males que devem ser combatidos: hipertensão, colesterol ruim alto (LDL) e excesso de açúcar no organismo.

Também não é possível sair de casa sem usar protetor solar. E ir três a quatro vezes à academia de ginástica não é luxo, nem opcional, e sim um pressuposto da saúde.

Malhar, contudo, exige, além do pagamento de mensalidade, roupas esportivas adequadas, tênis, medidor de batimentos cardíacos, toalhas, bonés, bolsas e garrafas de água.

Automóveis são verdadeiros membros da família – ou custam como se fossem: combustível, seguros, taxas, manutenção, estacionamento e lavagem.

Equipamentos eletrônicos e digitais caducam, tecnologicamente falando, em alguns meses. Forçam o consumidor, então, a novas compras, embora ainda funcionem muito bem. Incluam nessa situação telefones celulares, microcomputadores, impressoras, tablets, smartphones, tocadores de música e televisores.

Nem contabilizamos, ainda, o que pagamos em dobro, via impostos e serviços privados, como planos de saúde e escolas.

Nas últimas décadas, aumentaram as opções de consumo. Surgiram, então, novos hábitos, hoje quase imposições sociais. O pior é que, normalmente, não fazemos orçamento detalhado para acompanhar estes gastos.

Um dia, acordamos para o problema, mas já tivemos de recorrer ao crédito, sempre caro e muito perigoso.

O que fazer, então? Em primeiro lugar, anotar todos os produtos e serviços que consumimos mensalmente ou periodicamente – como o seguro do carro, renovado anualmente.

Cientes disso, teremos de refrear um pouco a ânsia de consumo, na proporção da economia necessária para não ficarmos inadimplentes. Então, se o orçamento estiver 10% acima de nossa renda, teremos de cortar uns 15% a 20% dos gastos, caso contrário nossas finanças pessoais entrarão em crise.

Substituir alguns itens e moderar o que for mais supérfluo – ou menos indispensável – poderá nos ajudar neste processo de ajuste orçamentário.

Não haverá soluções fáceis. Teremos, por exemplo, de adiar compras de roupas, troca do carro por um mais novo, reduzir os passeios e as refeições fora de casa. Nada disso é agradável, porque gostamos, com razão, de conforto, segurança e diversão.

O descontrole nas contas, porém, é uma ameaça séria, que não pode ser relegada a um segundo plano. Dívidas mensais nos empurrarão para os bancos ou as operadoras de cartões de crédito.

Os juros comerão nossa renda e, gradativamente, nosso futuro. Ficaremos mais distantes, por exemplo, do sonho da casa própria ou de uma viagem ao exterior.

Temos de poupar para um dia de dificuldade, provocada pela queda de faturamento ou desemprego. Enquanto formos jovens, nem sempre teremos a nítida percepção de que os rendimentos dos mais idosos tendem a cair dramaticamente, na aposentadoria.

Então, use a calculadora do micro e capriche nos cálculos.