Prato de dúvidas

Por FABIANA FUTEMA

Carne de cavalo, cereal transgênico, comida com excesso de sal, gordura ou açúcar. Isso mostra que comer é, cada vez mais, uma escolha difícil, seja pelo gosto, peso, controle de colesterol ruim, diabetes, hipertensão etc.

Esta é uma área ainda nebulosa, na qual, em algumas situações, nos sentimos enganados, como tem ocorrido na Europa, há algumas semanas, a partir da descoberta de que uma linha de hambúrgueres, pretensamente à base de bovinos, teria percentual de carne equina.

Cada pessoa tem suas próprias restrições alimentares – além das provocadas por doenças ou resistência a produtos como leite e derivados. Na hora de compor o prato, as opções também são culturais, geográficas e religiosas.

Algumas crenças condenam, por exemplo, o consumo de carne de porco e de camarões.

Muitas pessoas são vegetarianas, com inúmeras variações do que devam ou não comer. Há os que optam pelos alimentos crus, por frutas ou dietas sem carboidratos.

É inadmissível, contudo, comer, literalmente, gato por lebre. Ou carne de cavalo quando se imaginava consumir bovinos ou ovinos.

Também não podemos aceitar que produtos contenham impurezas ou até elementos químicos, como cádmio – utilizado na fabricação de pilhas, pode causar lesões no sistema nervoso e é considerado cancerígeno.

Há vigilância, mas, como em todo o tipo de crime, alguns vilões não são imediatamente identificados e punidos.

Como evitar, então, que nos vendam alimentos deteriorados, falsificados, adulterados ou, simplesmente, que não correspondam ao que está nas embalagens?

Temos de ficar atentos e denunciar qualquer deslize. As equipes de fiscalização da área pública devem ser constantemente ampliadas e qualificadas.

Mas nada não haverá resultados mais efetivos se as leis não forem rigorosamente seguidas pelos tribunais. Em alguns casos, creio que somente a proibição permanente de produzir alimentos serviria exemplo para os desonestos ou descuidados.

Dependendo da gravidade do dano provocado, algumas pessoas e fabricantes deveriam ser proibidos para sempre de fornecer qualquer tipo de comida. Pode parecer exagero, mas os riscos que os consumidores correm nestes casos são imensos.      

Fabricar um alimento com substâncias cancerígenas já identificadas pelos especialistas não tem perdão. Multas e recolhimento dos produtos são medidas necessárias, mas insuficientes para evitar novos casos semelhantes.

Um dos direitos fundamentais do ser humano é o de saber exatamente o que está comprando. Estar consciente dos riscos inerentes aos itens que pretenda adquirir, ainda que decida ir em frente.

Até anunciantes já perceberam isso, como demonstram os casos de um refrigerante à base de cola e de uma marca de maionese. Comerciais apostam na informação de que não teriam a quantidade de calorias imaginada pelas pessoas.

Sem dúvida, um começo de conversa, embora parcial, porque não imagino que a maioria dos consumidores de maionese se contente com uma pequena colher do produto. Também sabemos que os refrigerantes não são saudáveis. Os à base de cola, se consumidos em excesso, podem provocar doenças ósseas.

Aprendemos, nas últimas décadas, que comida não tem somente funções de matar a fome e de satisfazer o paladar. Muitos profissionais de saúde reiteram que somos, acima de tudo, o que comemos.

Lamentavelmente, resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que determinava a veiculação de frases de alerta na propaganda de produtos com teor significativo de sal, açúcar e gordura está suspensa desde 2010.

Recentemente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, vetou projeto de lei que restringia a publicidade de alimentos não nutritivos (junk food). Deveria tê-lo sancionado, mas alegou que a matéria seria de competência federal.

 Vai apreciar, nos próximos dias, outro projeto, de proibição à venda de alimentos acompanhados de brindes e brinquedos.

Sancione o projeto, governador! Temos de começar a combater a obesidade infantil.