Queda livre

Por Folha
Comprar um concorrente para tirá-lo do mercado é uma das piores coisas que uma empresa pode fazer. Lesa a concorrência, ceifa empregos e reduz as opções dos consumidores.
Foi o que a Gol fez com a Webjet, para tirar do mercado uma companhia com tarifas mais baixas e, consequentemente, encarecer os voos dos brasileiros.
É lamentável que o governo federal tenha apadrinhado a Gol, facilitando a aquisição da Varig. E que tenha fechado os olhos ao golpe mais recente, que vitimou a Webjet.
Preocupa, além disso, que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que deveria zelar pela concorrência no mercado, tenha aprovado tudo o que a Gol fez, impunemente. E que nem ao menos tenha criticado o fim de centenas de empregos e de uma companhia com passagens aéreas mais baratas.
Da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), sinto muito, mas não espero mais nada em favor dos passageiros. Sequer fiquei surpresa quando a Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, revelou que Mirelle Nóvoa da Noronha, filha da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, ocupava o cargo de assessora técnica do setor de Infraestrutura Portuária da agência, dirigido por outro implicado no caso, Rubens Carlos Vieira.
Afinal, temos uma ‘excelente’ infraestrutura aeroportuária, não é mesmo? E os consumidores são muito bem tratados, com respeito e conforto, nos aeroportos brasileiros. Por que reclamar, em meio um cenário tão bom, do diretor e de sua assessora?
O desenho imaginado pelo governo para a aviação civil brasileira é ruim. Hoje, um duopólio – Gol e TAM – domina a área e, ainda assim, coleciona prejuízos bilionários. Há algo de muito errado nisso.
Nunca entendi o porquê da opção preferencial por este modelo. O correto seria estimular a oferta de voos, evitar a concentração de mercado e melhorar a estrutura dos aeroportos. Disso, o que foi feito mesmo?
Agora, às vésperas da Copa do Mundo de Futebol de 2014, as autoridades ainda não resolveram a situação de todos os aeroportos, embora tenhamos sabido em 2007 que sediaríamos este megaevento esportivo mundial. E que, em 2016, teríamos os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Viajar de avião não é mais exclusivo da classe A, dos que têm renda alta. Desde que começou o processo de inclusão de milhões de brasileiros na classe média, voar se tornou uma opção para milhões de pessoas, não uma exclusividade de milhares.
Afinal, reduz em várias horas o tempo de viagem em um país com dimensões continentais. Se não houver atrasos nem cancelamentos, será muito rápido e seguro. Sim, porque há muito mais acidentes per capita nas rodovias brasileiras.
Os aeroportos, contudo, não evoluíram na mesma medida da demanda. As companhias aéreas não têm feito jus ao crescimento do mercado. Os serviços, o conforto e a qualidade do atendimento, também não.
Isso ocorre porque não houve planejamento nem gerenciamentos adequados. Assim como não conseguem acelerar o desempenho da economia, não têm sido eficientes no comando na aviação.
Isso um dia vai mudar. Os brasileiros não aceitarão mais a ineficiência pública nem privada. Cobrarão das autoridades mais competência na gestão dos aeroportos.
Provavelmente, será dado algum ‘jeitinho’ para suportar o movimento das grandes competições esportivas, em 2014 e 2016. Não serão definitivas, mas a inapetência das autoridades pela ação é evidente em todos os aspectos do cotidiano nacional.
Teremos, urgentemente, de discutir o uso das agências reguladoras para encostar correligionários e amigos daqueles que detêm o poder, à luz do sol ou subterraneamente. O fato de a Anac estar envolvida em desmandos contribui para o entendimento de por que as coisas não funcionam direito nesta área.
Precisamos de mais eficiência e de menos influência política. De mais concorrência, em lugar de oligopólios. De mais respeito ao consumidor.
Chega de bagunça aérea!