Ergo a minha taça para saudar as associações de vinicultores do Brasil que desistiram da investigação contra os vinhos importados, solicitada no início deste ano. Reservas de mercados são péssimas para consumidores e fabricantes, porque não solucionam desequilíbrios como a carga tributária que onera o produto nacional.
Além disso, o consumo por habitante no país é ínfimo: menos de dois litros por ano. Fica claro, portanto, que um bom trabalho de divulgação poderá ampliar as vendas para todos. Mais importante do que diminuir a participação dos concorrentes, será aumentar as vendas para todos.
O acordo fechado entre produtores nacionais, importadores, distribuidores e supermercados objetiva dobrar o consumo da bebida até 2016. Hoje, são menos de dois litros por habitantes anualmente. Na Argentina, por exemplo, supera os 30 litros.
Por que o vinho não é um sucesso de vendas no Brasil? Há vários motivos. Um deles, o preconceito, pois a bebida sempre foi associada, por aqui, ao inverno e ao frio, raros em um país tropical e equatorial, exceto no Sul, maior região produtora do Brasil. O preconceito diminuiu, mas ainda existe.
Os preços, sem dúvida, também afastam os compradores das gôndolas. Além disso, somente nos últimos anos brasileiros passaram a conhecer mais sobre vinho, para diferenciar o joio do trigo. Quem bebe um produto de má qualidade não é atraído para um mundo de marcas, tipos de uvas, safras, harmonização com a boa cozinha etc.
Podemos afirmar, então, que o mercado deverá crescer à medida que houver mais cultura do produto, algo que não é tão simples e imediato.
O espaço que os vinhos nacionais terão, a partir de agora, devido ao acordo, terá de ser muito bem aproveitado. Nas lojas especializadas, o percentual mínimo será 15%, e 25% nos supermercados.
Os principais concorrentes, em função da relação entre qualidade e preços, são os argentinos e chilenos. São reconhecidos internacionalmente, algo que os brasileiros ainda deverão conquistar, com investimento em tecnologia e divulgação.
Mas há boas marcas nacionais, em condições de concorrer com os importados, se os preços forem semelhantes.
O apelo à saúde pode ser forte aliado do incremento nas vendas. Médicos e pesquisadores ressaltam que, consumido com moderação, o vinho ajuda, por exemplo, a evitar cardiopatias. É possível compor um quadro de hábitos saudáveis com exercícios físicos regulares, alimentação balanceada, não fumar e beber uma a duas taças de vinhos por dia, se não houver restrições médicas, devido a doenças como diabetes e hepáticas.
Há um horizonte, portanto, de muito trabalho, com campanhas regionais e nacionais, para que os brasileiros aprendam a gostar dos vinhos locais. No passado, assim que o Brasil começou a importar mais, recebemos produtos de qualidade duvidosa, tendo como único atrativo um nome estrangeiro. Felizmente, esta fase já passou.
A divulgação do produto brasileiro não poderá, contudo, desconhecer uma moléstia muito difícil de combater – o alcoolismo. Para muitas pessoas, a recomendação é não consumir bebida alcoólica, não importa a procedência.
Da mesma forma, vinho não combina com direção, pois seus efeitos são os mesmos de outras bebidas: reduzem as condições de condução de um veículo automotivo.
A vitivinicultura brasileira se concentra no Rio Grande do Sul, em consequência da colonização italiana no século XIX, com polos regionais promissores, como o Vale do São Francisco, em Pernambuco e na Bahia. Há produtores em outros estados, como São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais.
É uma atividade que congrega o agricultor, geralmente em núcleo familiar, e indústrias ou cooperativas. Gera empregos e fixa as pessoas no meio rural. Que nós tenhamos, em algum tempo, vinícolas cada vez mais prósperas e respeitadas, como as de nossos vizinhos do Mercosul. Saúde!