A pressão do governo federal contra as elevadíssimas taxas de juros cobradas pelos bancos sacudiu o mercado financeiro. Sem dúvida, a redução de juros em operações do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, também contribuiu para colocar, aparentemente, os bancos privadas contra a parede. Já explico porque parece, mas não é.
Evidentemente, o governo não fez esta campanha toda somente porque o custo do crédito era (e ainda é) proibitivo, exceto para quem tenha renda tão alta que não precise de empréstimos. O objetivo foi reaquecer a economia pelo caminho do consumo. Ora, como comprar sem crédito?
No mundo dos cartões de crédito, contudo, nada mudava. O rotativo, que financia as mensalidades parcialmente pagas na data do vencimento, seguia acima da estratosfera, lépido e fagueiro.
A presidente da República, Dilma Rousseff, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, então, apertaram ainda mais os parafusos dos bancos, exigindo contas menos salgadas no chamado dinheiro de plástico.
Os banqueiros fizeram algumas concessões. Mas não deixaram barato: iniciaram consistente reajuste das tarifas bancárias. Usaram a velha prática de um beijinho e uma pancada na cabeça; o famoso morde e assopra.
Em função disso, o correntista de classe média alta, que tem investimentos e negócios na agência que hospeda sua conta-corrente, continuou isento do pacote de tarifas. Já o cliente mais pobre, e não há surpresa alguma nisso, tem pagado, de janeiro para cá, praticamente 50% a mais pelo fornecimento do extrato mensal, dentre outros serviços.
Confrontado com os aumentos, um dos ‘bancões’ argumentou que os valores refletiam a tarifa máxima, sem considerar os descontos concedidos de acordo com o relacionamento entre o cliente e o banco. Ora, foi o que destacamos: quem se relaciona mais com a agência é o correntista que tem salários ou ganhos maiores.
Os milhões de assalariados de baixa renda, que dão lucros muito menores, individualmente, mas expressivos, coletivamente, estão subsidiando, de fato, quem tem contracheques recheados. Uma espécie de lenda de Robin Hood pelo avesso – refiro-me ao personagem literário inglês que aliviava os bolsos dos ricos para entregar o dinheiro aos pobres.
Isto posto, é fundamental que fiquemos de olho em nossos extratos bancários, para avaliar o peso das tarifas em nossa renda. Qualquer descuido poderá custar, literalmente, muito caro.
Essa é mais uma evidência de que quem detém o poder financeiro sempre encontra uma saída quando parece que perderá dinheiro. Baixa um pouco os juros, aumenta sem dó o custo de serviços bancários. É assim que as coisas funcionam no mercado brasileiro, em que o capital financeiro é imperador absoluto, pois sempre mandou e desmandou.
O governo pressionou de um lado, os empresários financeiros compensaram a redução do lucro de outro. Uma resposta velada, porém ruidosa, daqueles que se acostumaram a lucrar bilhões de reais com economia em alta ou em baixa.
Diante da perspectiva de enxugar um pouco as margens de lucro, eles partiram para o ataque. Gerentes redobraram os telefonemas para os clientes, para oferecer mais produtos financeiros. Correntistas que não investem têm sido convidados a procurar agências menos estreladas.
Começou a temporada de caça aos balanços bilionários. Quem reclamava das taxas de juros, agora tem motivos para lamentar as novas tarifas.
O governo federal, porém, retomou o ataque. Na última sexta-feira, comentava-se que o Banco do Brasil reduziria os preços de algumas tarifas.
Quem vencerá a disputa? É difícil saber de antemão, mas o novo round, disputado entre autoridades e banqueiros, promete muitas emoções. Vamos torcer e fazer nossas apostas, senhoras e senhores.